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nas sombras de uma cripta;

A escuridão da cripta era densa, mas seus olhos brilhavam como brasas em meio às sombras. Lembro-me de cada detalhe: o cheiro de terra úmida, o eco de gemidos distantes, a friagem que grudava na pele como uma segunda camada de morte. E, ainda assim, ali estávamos nós. Ela, com sua super espingarda manchada de podridão, e eu, com as mãos trêmulas segurando uma lanterna e uma arma que já não sabia se estava carregada.

Caçávamos zumbis.

Passamos horas lá dentro. O tempo perdeu o sentido. Só existiam os corredores estreitos, o som de nossos passos apressados e os momentos em que nossos olhares se cruzavam entre um golpe e outro. Ela sorria. Sorria mesmo quando um zumbi quase a arrastava para o chão. Sorria como se aquilo fosse um jogo, e eu, sem perceber, comecei a sorrir também.

Foi então que tudo mudou.

A lanterna falhou. Ficamos imersos em trevas, ouvindo o arrastar de pés despedaçados se aproximando. Eu gaguejei algo sobre recuar, mas ela agarrou minha mão. “Confia em mim,” sussurrou. E eu confiei. Seus dedos eram quentes, envoltos em couro gasto, e mesmo na escuridão, senti que ali estava a única coisa real. Movemo-nos no escuro, guiados por instinto e pelo toque um do outro. Quando a luz voltou, estávamos de costas coladas, respirando fundo, cercados por corpos imóveis.

Ela limpava o sangue do rosto e me olhava com um brilho travesso nos olhos. Ali eu percebi: me apaixonei pela mulher que ria da morte e transformava o caos em algo belo. Apaixonei-me pelos silêncios entre um golpe e outro, pelas histórias não contadas em suas cicatrizes, pela coragem que contagiava até um covarde como eu.

Agora, quando fecho os olhos, não vejo zumbis ou túmulos abertos. Vejo seu sorriso na escuridão, a pressão de sua mão na minha, e uma pergunta que não ouso fazer:

“E se, depois disso tudo, existir um ‘nós’?”