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Há em mim uma caixa onde tudo que foi inteiro vive!

Percebo que ao meu redor dois mundos coexistem. De um lado, o das relações superficiais... lisas, rasas, escorregadias. Abraços de um braço só, sorrisos que se apagaram antes de se fixarem na memória, conversas que não diziam nada. Tudo passa como reflexo d’água: eu vejo, mas não toco; ouço, mas não sinto. São vínculos que evaporam na pressa, deixando apenas um gosto de vazio.

Esse efêmero é sobretudo latente no mundo da música: a cada semana surge “a melhor canção de todos os tempos da última semana”, e o “maior show” nunca é de fato maior, apenas mais um produto embalado pela propaganda. A arte, que poderia ser encontro e verdade, muitas vezes vira mercadoria, vendida por gente que transforma criação em consumo rápido.

E há ainda a desconexão, pessoas com quem compartilhava tanto, e que hoje, por uma liquidez dos dias ou por falha minha, estão afastadas de mim. Com essas tento buscar os fios que nos ligavam, alguns parecem ter se dissolvido no tempo, mas outras estão lá e é possível construir um caminho de volta.

Mas também conheço o outro lado, aquele que me toca profundamente. As conexões genuínas... Onde cada encontro é mergulho, cada palavra tem peso, cada silêncio ganha sentido. Ali eu me permito ser inteira, vulnerável, marcada pelo outro. Nessas relações, não sou reflexo sou presença. Não fico na borda: mergulho afundo e ando junto.

É no contraste entre esses dois mundos que aprendo o que realmente importa. Por isso guardo, no escaninho secreto da minha alma, uma caixa com as minha memórias preciosas, me permito ir além. No meu interior vive as recordações dos momentos mais belos e verdadeiros (ainda que não sejam bonitinhos) as vivencias que vivi com quem ousou ser profundo, quem quis dançar comigo em outra dimensão, lá existem em loop os mergulhos que me marcaram, as presenças que deixaram cicatrizes bonitas. Essa caixa existe e ela me lembra que fui tocada de verdade e que, por isso, permaneço.