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VI - A brisa na BR1S4

Quando o Piero disse que queria fumar pra entrar na brisa do chalé, eu achei divertido e me animei. Levei ele até o deck pra apresentar o lugar que mais amo naquele refúgio. Mostrei o riacho, a rede, a vista da cachoeira. Ele ficou encantado e por um instante achei bonito ver alguém observando meu mundo com tanta atenção.

Ele refletiu sobre o som do silêncio, perguntou até onde estavam os gnomos e me diverti muito, pensando que fazia tempo que não via alguém descrever as coisas com tanta calma e humor.
Quando acendeu o baseado, o cheiro se misturou com o da madeira úmida e do vento frio. Tirei uma foto e perguntei como era a sensação da brisa.



Ele começou a falar sobre ser sensorial. A tonturinha, a leveza, a percepção de tudo. Me fez deitar na rede. Então balançou de leve e me explicou como cada detalhe ganha vida quando se fuma. O formato das folhas, a textura do ar, o sabor de um simples palmier... Tudo tão mais detalhado e evidenciado.
Obedeci feito uma aluna aplicada, tentando imaginar e sentir tudo do jeito que ele dizia. Aí entendi porque os músicos piram tanto nisso.

Depois perguntei, brincando, se me via diferente depois de fumar. Ele se aproximou devagar, riu, e disse que eu continuava sendo a garota mais linda e incrível que conheceu. Acabei fazendo piada, mas guardei a frase no peito. Esse cara sempre teve o dom de me chacoalhar por dentro.

No fim, o sol foi sumindo atrás das árvores, o frio chegou silencioso. Falamos sobre ficar ali, sobre surfar no dia seguinte, sobre câmeras e drones. Pequenas coisas... Mas cada palavra ficava suspensa no ar, a sensação era de que o tempo parou só pra ouvir a gente existir.