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Tenha um bom dia, amor.

No meu sonho, acordei com o calor de um raio de sol atravessando uma fresta da janela. Era como se a luz me puxasse à força pra realidade, e por alguns segundos eu nem soube onde estava. Meus olhos tentavam se acostumar com o brilho, mas tudo parecia embaçado, inclusive os pensamentos.

Foi aí que eu me dei conta do silêncio.

Procurei por você na penumbra que ainda restava no quarto. Instintivamente, estiquei a mão para o lado da cama e o vazio me causou um arrepio.

Te chamei uma, duas vezes.. nada.

Levantei tão rápido que quase tropecei no cobertor, saí andando pela casa como se algo dentro de mim tivesse desabado; procurei você em todos os cantos, até nos lugares onde não faz sentido procurar alguém.

E lá estava você:
Sentado à mesa da cozinha, com um fone de ouvido antigo; estava ouvindo músicas calminhas (dessas que você insiste em cantar mesmo com vergonha) enquanto preparava o café. Você virou o rosto na minha direção com aquele sorrisinho de quem se diverte vendo o desespero alheio, como se dissesse: “Você realmente achou que eu tinha ido embora?”

Eu só consegui rir.

Você me ofereceu café e puxou a cadeira, como se fôssemos um casal de filmes antigos e eu fiquei ali, te observando.

Mas a verdade é que, desde o primeiro dia, eu me pego acordando com o mesmo impulso: te procurar. Às vezes recebo um “bom dia” ainda na cama, outras vezes você me deixa dormir.. já sabe como é o tamanho da minha insônia.

Você foi se espalhando aos poucos por tudo, esse apt já é seu também. Suas roupas foram ficando, seus hábitos, suas músicas, seus gostos, suas manias. Hoje já não tem mais linha divisória, é tudo meio misturado.

Eu não acho isso assustador.. acho reconfortante.

E eu te procuro com a mesma intensidade com que te procurei nesse sonho, toda manhã.